Cannabis e Chernobyl: A Planta Que Limpa o Solo e os Riscos Que Podem Vir com Ela!
- Dr. Luís Cláudio Azevedo

- 30 de set.
- 4 min de leitura

Uma Solução Verde para o Desastre Nuclear!
Imagine você uma planta capaz de enfrentar um dos maiores fantasmas da história moderna: a contaminação nuclear. Essa não é uma cena de ficção científica, mas sim uma realidade surpreendente que envolve a Cannabis, mais especificamente o cânhamo industrial. Longe dos debates sobre seu uso recreativo ou medicinal, essa planta tem demonstrado um potencial extraordinário como uma faxineira natural do meio ambiente.
O conceito por trás disso se chama fitorremediação, uma técnica que utiliza vegetais para absorver e neutralizar substâncias tóxicas do solo, da água e do ar. Graças ao seu crescimento rápido e, crucialmente, ao seu vasto e profundo sistema radicular, o cânhamo (uma variedade da Cannabis sativa com baixo teor de THC, o composto psicoativo) se revela um hiperacumulador ávido de contaminantes.
O Cânhamo em Chernobyl: A Planta Contra a Radiação!
O exemplo mais emblemático do uso da cannabis para descontaminação ocorreu após o trágico acidente de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia. A explosão do reator nuclear espalhou isótopos radioativos, como o Césio-137 e o Estrôncio-90, que penetraram profundamente no solo da vasta "Zona de Exclusão".
Na década de 1990, cientistas e empresas de biotecnologia como a Phytotech, em colaboração com a Academia Ucraniana de Ciências Agrárias, decidiram testar o cânhamo nessa área devastada. O experimento demonstrou que a planta era capaz de absorver os elementos radioativos, concentrando-os em seus caules e folhas.
Embora o processo de fitorremediação seja gradual e não substitua completamente outras formas de remediação, o resultado foi promissor:
Extração de Radioisótopos: O cânhamo conseguiu extrair e acumular césio e outros metais pesados do solo.
Crescimento Vigoroso: A planta demonstrou a capacidade de prosperar em solos altamente contaminados, onde outras espécies teriam dificuldades.
Alternativa de Baixo Custo: A fitorremediação é considerada uma opção mais ecológica e economicamente viável do que a remoção e descarte da camada superficial do solo contaminado.
Depois de absorver os contaminantes, a biomassa do cânhamo é descartada de forma segura (como a queima em incineradores lacrados), removendo permanentemente as toxinas do solo e do ciclo ecológico. Esse feito destacou a cannabis como uma ferramenta poderosa para a recuperação ambiental em áreas degradadas por metais pesados, pesticidas e, como visto, até mesmo radiação.
O Outro Lado da Moeda: O Perigo da Cannabis Contaminada!
A mesma característica que torna a cannabis uma aliada ambiental — sua incrível capacidade de absorver substâncias do solo — é o que representa um risco grave para a saúde humana quando o produto é consumido. Se a planta é utilizada para limpar o solo de metais pesados, significa que essas substâncias (chumbo, cádmio, arsênio, etc.) e outros contaminantes (pesticidas, fungos, microrganismos) ficam concentrados em suas raízes, caules e flores.
Quando produtos derivados da cannabis, como flores, óleos ou comestíveis, são produzidos a partir de plantas cultivadas em solos contaminados ou com práticas agrícolas inadequadas, sem o devido controle, eles se transformam em um vetor de toxinas para o consumidor.
O Risco do Cultivo de "Fundo de Quintal" e Produtos Não Regulamentados 🤔
Os riscos são exponencialmente maiores ao consumir cannabis recreativa ou medicinal de procedência desconhecida, como a produzida em pequenas plantações de "fundo de quintal" ou em produtos artesanais sem garantia de qualidade. Nesses cenários, a falta de controle sanitário e laboratorial intensifica os perigos:
Exposição a Metais Pesados do Solo: O solo de quintais ou áreas não agrícolas, especialmente em regiões urbanas ou industriais, pode estar saturado de chumbo (de tintas antigas ou gasolina), cádmio e arsênio. A planta os absorve diretamente, e eles são transferidos para o óleo ou flor consumida, causando danos neurológicos e renais a longo prazo.
Uso Indiscriminado de Agrotóxicos: Cultivadores sem regulamentação tendem a usar pesticidas e fungicidas fortes, muitas vezes proibidos para consumo humano, para proteger suas colheitas. Esses produtos químicos não se degradam facilmente e se concentram na planta, podendo causar irritações respiratórias agudas, reações alérgicas ou problemas endócrinos no consumidor.
Contaminação Biológica (Mofo e Fungos): A produção artesanal geralmente carece de controle de umidade e temperatura durante a secagem e cura. Isso favorece o crescimento de fungos patogênicos, como o Aspergillus, que pode ser inalado ou ingerido. Em pessoas saudáveis, pode causar tosse e irritação; em pacientes que buscam o uso medicinal e já têm a saúde fragilizada, pode levar a infecções pulmonares potencialmente fatais.
Incerteza de Dosagem e Fraude: Produtos não testados não garantem a pureza nem a concentração de THC e CBD. Isso significa que um paciente pode estar recebendo uma dose ineficaz, ou pior, uma dose perigosamente alta. Além disso, a falta de controle abre a porta para a adição de substâncias sintéticas ou adulterantes, como óleos de corte ou canabinoides sintéticos, aumentando o risco de intoxicações agudas e efeitos colaterais imprevisíveis.
Em suma, a extraordinária capacidade da cannabis de "limpar" o solo sublinha a necessidade crítica de regulamentação rigorosa e análise laboratorial obrigatória para qualquer produto destinado ao consumo humano. A diferença entre uma aliada ambiental e um risco à saúde reside inteiramente no controle de qualidade.
A planta que ajuda a curar a Terra não pode ser consumida sem o devido cuidado. Seu potencial é imenso, mas a ignorância sobre sua origem pode ser perigosa.
Fontes para consulta:
Para aprofundar o conhecimento sobre a fitorremediação da cannabis e os riscos associados à falta de controle de qualidade em produtos de cannabis, consulte as seguintes fontes:
Fitorremediação com Cânhamo em Chernobyl: Um Panorama: https://thegreenhub.com.br/canhamo-e-a-descontaminacao-de-solos/
Cânhamo como Agente na Regeneração e Descontaminação do Solo: https://sechat.com.br/noticia/canhamo-como-agente-na-regeneracao-e-descontaminacao-do-solo
Controle de Qualidade em Produtos de Cannabis para Uso Medicinal (Regulamentação ANVISA): https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/educacaoepesquisa/webinar/medicamentos/arquivos/perguntas-e-respostas-autorizacao-sanitaria-de-produtos-de-cannabis.pdf
Cânhamo como Agente na Regeneração e Descontaminação do Solo: https://sechat.com.br/noticia/canhamo-como-agente-na-regeneracao-e-descontaminacao-do-solo
Dr. Luís Cláudio de Azevedo Silva é Médico especialista em Medicina Preventiva, com Pós-graduação em Psiquiatria e Cerificação em Medicina Endocanabinóide




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