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O Potencial dos Canabinoides no Tratamento de Feridas Crônicas: Uma Abordagem Inovadora

  • Foto do escritor: Dr. Luís Cláudio Azevedo
    Dr. Luís Cláudio Azevedo
  • 10 de ago.
  • 3 min de leitura
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A cicatrização de feridas crônicas, como úlceras venosas, diabéticas e por pressão, representa um desafio significativo para a saúde, afetando milhões de pacientes anualmente. Essas feridas são caracterizadas por um processo inflamatório persistente que impede a regeneração tecidual adequada. Diante desse cenário, os canabinoides, especialmente o canabidiol (CBD), surgem como uma alternativa terapêutica promissora devido às suas propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e regenerativas.


O Desafio das Feridas Crônicas


Feridas crônicas são um problema multidimensional, prevalente em populações vulneráveis como idosos e diabéticos. Essas lesões, frequentemente associadas a biofilmes bacterianos e disfunções circulatórias, têm um impacto profundo na qualidade de vida dos pacientes. As úlceras venosas, por exemplo, afetam milhões de pessoas e resultam da hipertensão venosa, que leva à inflamação crônica e danos teciduais. O tratamento padrão, como a terapia compressiva, muitas vezes não é suficiente, o que impulsiona a busca por novas abordagens.


O Papel do Sistema Endocanabinoide na Pele


O Sistema Endocanabinoide (SEC) é fundamental para a saúde da pele, regulando processos como proliferação celular, inflamação e homeostase. Os receptores canabinoides (CB1 e CB2) estão amplamente distribuídos em diversas células da pele, incluindo queratinócitos e fibroblastos. A ativação desses receptores modula a resposta inflamatória e promove o equilíbrio necessário para a cicatrização. Estudos demonstram que a ativação dos receptores CB2, em particular, pode reduzir a inflamação e acelerar a reepitelização de feridas ao diminuir mediadores inflamatórios como TNF-α e IL-6.

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Representação esquemática dos principais elementos do sistema endocanabinoide nos compartimentos celulares da pele. Fonte: MONTAGNER, Patrícia; DE SALAS-QUIROGA, Adán. Tratado de Medicina Endocanabinoide.1. ed. WeCann Endocannabinoid Global Academy, 2023.


Como os Canabinoides Atuam na Cicatrização


Os canabinoides, como o CBD, apresentam um potencial terapêutico significativo por meio de diversos mecanismos:

  • Ação Anti-inflamatória: O CBD inibe a liberação de citocinas pró-inflamatórias e modula a atividade dos macrófagos, convertendo-os de um perfil pró-inflamatório (M1) para um anti-inflamatório (M2), o que cria um ambiente mais propício para a regeneração.

  • Controle da Proliferação Celular: Em feridas crônicas, a proliferação descontrolada de queratinócitos pode dificultar o fechamento da lesão. Os canabinoides ajudam a regular esse processo.

  • Efeito Antioxidante: O CBD combate o estresse oxidativo, um fator chave na patologia de diversas doenças de pele, ao induzir a expressão de genes antioxidantes.

  • Alívio da Dor: Estudos clínicos evidenciam a capacidade dos canabinoides de reduzir significativamente a dor associada a feridas crônicas, diminuindo a necessidade de analgésicos opioides.


Evidências Científicas que Suportam o Uso de Canabinoides


Pesquisas recentes têm fornecido evidências robustas sobre a eficácia dos canabinoides no tratamento de feridas:

  • Um estudo de Umpreecha et al. (2023) demonstrou que uma preparação tópica de CBD a 0,1% acelerou a cicatrização de úlceras aftosas, reduzindo o tamanho das lesões e a inflamação.

  • Spinella et al. (2023) compararam o CBD tópico com a terapia padrão para úlceras digitais em pacientes com esclerodermia, observando uma redução significativa da dor e uma melhoria na saúde geral dos pacientes tratados com canabidiol.

  • Pesquisas lideradas pelo Dr. Vincent Maida têm sido pioneiras. Em 2017, um estudo de caso mostrou que uma formulação tópica de cannabis (com CBD e THC) reduziu drasticamente a dor em pacientes com Pioderma Gangrenoso, diminuindo o uso de opioides.

  • Em 2020, ensaios clínicos conduzidos por Maida e sua equipe avaliaram o uso de cannabis tópica em úlceras de perna associadas à calcifilaxia, uma condição grave. Os resultados indicaram uma cicatrização mais rápida, controle eficaz da dor e melhora na qualidade de vida dos pacientes.


Conclusão


A utilização de canabinoides representa uma fronteira promissora na medicina para o tratamento de feridas crônicas. Ao modular a inflamação, a dor e a proliferação celular, esses compostos oferecem uma abordagem terapêutica integrada e inovadora. Para a comunidade médica, compreender os mecanismos de ação dos canabinoides e o papel do Sistema Endocanabinoide é crucial para explorar o potencial clínico dessa terapia emergente, que pode redefinir os padrões de cuidado e oferecer alívio a pacientes com condições de difícil manejo.


Dr. Luís Cláudio de Azevedo Silva é Médico especialista em Medicina Preventiva, com Pós-graduação em Psiquiatria e Cerificação em Medicina Endocanabinóide

 
 
 

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