O Sistema Endocanabinoide e a Doença de Alzheimer
- Dr. Luís Cláudio Azevedo

- 9 de ago.
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O sistema endocanabinoide (SEC) é uma rede de sinalização essencial para o equilíbrio das funções do cérebro. Ele atua modulando a comunicação entre neurônios, protegendo as células nervosas e controlando processos inflamatórios — pontos-chave no contexto da Doença de Alzheimer (DA).
Esse sistema é formado por receptores canabinoides (CB1 e CB2), moléculas sinalizadoras naturais chamadas endocanabinoides — como a anandamida (AEA) e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG) — e pelas enzimas que produzem e degradam esses compostos.
Na DA, o SEC sofre alterações marcantes:
CB1: nos estágios iniciais, sua expressão aumenta no hipocampo como tentativa de compensar o estresse neurodegenerativo. Com a progressão da doença, essa expressão cai, acompanhada de maior perda cognitiva.
CB2: sua atividade cresce de forma expressiva, especialmente devido à inflamação no cérebro. A ativação de CB2 tem mostrado reduzir a formação de placas de beta-amiloide (Aβ) e controlar a resposta inflamatória das células imunes cerebrais.
Além de CB1 e CB2, outros receptores ligados ao SEC, como TRPV1 e PPARγ, também participam na regulação da neuroinflamação e degeneração neuronal. Fitocanabinoides como CBD e THC podem ativar esses receptores, diminuindo o estresse oxidativo, equilibrando a função mitocondrial e protegendo os neurônios.
Os terpenos, compostos aromáticos da cannabis, também apresentam potencial terapêutico. O β-cariofileno (ligante de CB2 e PPARγ) melhorou sintomas em modelos animais, enquanto o linalol reverteu alterações cerebrais e recuperou funções cognitivas e emocionais, principalmente por seu efeito anti-inflamatório.
O que mostram as evidências
Mais de 100 estudos já exploraram a relação entre o SEC e a DA, investigando desde mecanismos moleculares até possíveis aplicações clínicas.
Ensaios clínicos iniciais com THC (15 mg/dia) ou combinações de THC e CBD mostraram boa tolerabilidade e melhorias no comportamento, redução de rigidez muscular e maior facilidade nos cuidados diários de pacientes com demência grave.
Estudo clínico randomizado (Israel, 2022): óleo rico em CBD (30% CBD, 1% THC) reduziu significativamente a agitação psicomotora em comparação ao placebo, com poucos efeitos adversos leves e temporários.
O CBD, já conhecido por suas propriedades ansiolíticas, antioxidantes e anti-inflamatórias, tem potencial para:
Reduzir ansiedade e agitação;
Melhorar o sono;
Proteger os neurônios ao inibir a produção excessiva de beta-amiloide e proteína tau — dois marcadores-chave da DA.
Conclusão
O CBD e outros compostos da cannabis oferecem uma abordagem inovadora e promissora para o manejo da Doença de Alzheimer. Seus efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios, aliados à boa tolerabilidade, abrem espaço para tratamentos mais eficazes, capazes de aliviar sintomas, melhorar a qualidade de vida e, potencialmente, retardar a progressão dessa condição neurodegenerativa desafiadora.
Dr. Luís Cláudio de Azevedo Silva é Médico especialista em Medicina Preventiva, com Pós-graduação em Psiquiatria e Cerificação em Medicina Endocanabinóide




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